Sunday, January 30, 2011

Adaptação em vez de representação

As conquistas da ciência e da tecnologia, apesar de poderosas no nível do senso comum, não resolveram realmente o problema fundamental do conhecimento.


Para apreciarmos este fato, temos que nos tornar clientes de que a validade, no mundo de nossas experiências, não é o mesmo que a "verdade" no sentido ontólogico ou absoluto dos filósofos.

Foram, de fato, os próprios céticos que ajudaram a obscurecer esta distinção.

Seu erro não situava na lógica dos seus argumentos, que eram, de fato irrefutáveis.

Mas eles não questionaram o modo como o que nós sabemos deveria ser relacionado á realidade.

É aqui que o uso que Piaget faz da noção de adaptação abre um caminho que torna possível aceitar a conclusão lógica dos céticos sem diminuir o valor evidente do conhecimento.

O Conceito de adaptação se origina da Biologia e indica o relacionamento específico entre os organismos vivos, ou espécies, e seu ambiente.

Dizer que eles são adaptados significa nada menos, mas também nada mais do que terem sido capazes de sobreviver em meio ás condições e restrinções do mundo em que por acaso estão vivendo.

Em outras palavras, eles conseguiram fazer evoluir uma forma de ajuste ou, como eu prefiro dizer, suas características físicas e seus modos de comportamento provaram, até o momento, ser viváveis no seu ambiente.

Piaget tomou a noção de adaptação do contexto biológico e a transformou na pedra angular de sua epistemologia genética.

Ele compreendera, anteriormente, que o que quer que fosse o conhecimento, ele não era uma cópia da realidade.

O Relacionamento entre organismos biológicos viáveis com seu ambiente forneceu um meio para reformular o relacionamento entre as estruturas conceituais do sujeito cognitivo e o mundo experiencial deste sujeito.

O Conhecimento, então, poderia ser tratado não como uma representação mais ou menos acurada de coisas, situações e eventos externos, mas antes como um mapeamento das ações e operações conceituais que provaram ser viáveis na experiência do sujeito conhecedor.

O Uso que Piaget faz da noção de adaptação, portanto, não é o mesmo que o sugerido pela escola de pensamento contemporânea que atende pelo nome de epistemologia evolutiva.

Ao contrário desta escola, que se formou em torno da obra de Konrad Lorenz, na teoria construtivista de Piaget não se pode extrair conclusões sobre o caráter do mundo real, da adaptividade de um organismo ou da viabilidade dos esquemas de ação.

Em sua visão, o que nós vemos, ouvimos e sentimos - ou seja, nosso mundo sensorial - é o resultado das nossas próprias atividades perspectivas, e portanto, específico dos nossos modos de perceber e conceber.

O Conhecimento, para ele, surge de ações e da reflexão do agente sobre elas.


As ações ocorrem em um ambiente e são embalsadas em objetos - e a eles dirigidas - que constituem o mundo experiencial do organismo, não em coisas que tenham, por si mesmas, uma existência independente.

Portanto, quando Piaget fala de interação, isso não implica um organismo que interage com objetos como eles realmente são, mas antes, um sujeito cognitivo que está lidando com estruturas perspectivas e conceituais anteriormente construídas.

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